Enquanto ser humano contemporâneo, devo me anestesiar com quaisquer estupefacientes disponíveis.

   Utilizamos os psicotrópicos, o amor, os narcóticos, a arte e até mesmo com as minhas próprias lágrimas. O sistema (capitalista) tornou nossas vidas em uma constante simulação, vivemos em um mundo virtual onde fingimos ser "úteis", somos engrenagens milimetricamente calculadas para manter as maiores engrenagens — já enferrujadas e despedaçadas —, rodando. A única forma de aliviar todo o cansaço e a fadiga cotidiana é com o uso de anestésicos. Um apaixonado, um lunático e um dependente químico não possuem tanta diferença assim. Todos estão, essencialmente, tentando aliviar a dor, para que assim seja minimamente tolerável continuar vivendo.

   Por conta da desumanização  deliberada causada pelo sistema (capitalista) que faz com que nós nos tornemos além do consumidor, a própria mercadoria, perdemos a capacidade de sentir prazer nas pequenas coisas, viver não é mais prazeroso. Atividades, hobbies e até mesmo tempos de descanso são ou: transformados em métodos de acumular capital ou são ignorados para buscar uma forma mais efetiva de acumular capital. 

   Vivemos em estado de anedonia crônica e de tédio permanente. Nós estimulamos nossos cérebros frequentemente em busca de dopamina, serotonina e noradrenalina com vídeos rápidos e redes sociais tal qual um dependente químico busca adrenalina ao abusar de substâncias químicas.

Estamos progressivamente adoecendo e a culpa é, claramente, do modo de produção capitalista.

   Somos hodiernamente reprimidos e oprimidos por tudo ao nosso redor. Somos oprimidos em ambientes de estudo, trabalho, ambientes familiares, sociais e até mesmo aqueles indivíduos que também são oprimidos pelo sistema servem como peões de pequena opressão por reprodução por frustração. Não estamos, de fato, felizes. Apenas andamos pelo mesmo caminho e fazemos as mesmas coisas todos os dias como um circuito fechado por falta de opção. Ou você é um escravo, ou você morre.

   Todos sofremos, exceto por aqueles que detém os meios de produção e não se importam em acabar com o planeta, afinal de contas, não vão estar vivos para ver o iminente colapso da Terra. Este é o momento decisivo de mudança, não existirá futuro caso as coisas continuem da forma que são atualmente. É veementemente inegável que o sistema é falho e deve ser extinto.

   O capitalismo desenfreado e a busca incessante — frequentemente infundada — por lucro, têm nos levado a um estado crítico de apatia. Nós estamos à beira de uma crise psicossocial, devido à dificuldade em sentir empatia e nos colocarmos na perspectiva do outro, a sociedade está em ruínas. Nós, seres humanos, estamos cada vez mais distantes do mundo ideal. O nome da nossa espécie, do latim, *Humanus*, sempre deixou claro que somos uma oposição, uma emulação falha, uma contraposição daquilo que é ideal, do que é divino. Todavia, é mais e mais perceptível que estamos deixando de ser até mesmo uma imitação imperfeita, afinal, não tentamos compreender o material e se adaptar harmoniosamente ao planeta que habitamos, o *nosso* mundo.

   Os seres humanos estão perdendo o que tem de mais essencial, sua humanidade, em nome da manutenção do modo de produção.

   Continuamos a observar esse cenário com uma certa frequência, sem notar que somos participantes ativos dessa realidade. Cada dia mais, nós nos tornamos cúmplices do sistema, fomentando-o com nossa impassibilidade e conformismo. É preciso que nos conscientizemos da inegável necessidade de uma mudança radical, que só será possível através do esforço coletivo. Só será possível através da luta da classe trabalhadora.

   A sociedade está enferma, e nós, como indivíduos pertencentes a ela, devemos buscar nossa própria panaceia, informando aqueles que são ignorantes e nos opondo continuamente ao status quo. Mas, mais importante, devemos nos unir e nos organizarmos para curar nossa sociedade, para acabar com esse sistema que nos oprime e nos desapieda. Precisamos nos rebelar contra a normalização da dor, da fadiga e da apatia.