Na penumbra de uma noite de sábado, eu permaneço quieto, quieto como sempre estive, quieto como sempre estarei. Hoje é, ao menos, era para ser, um dia importante para mim. Hoje é meu aniversário. Estou sentado em frente ao computador, sentindo a brisa quente que estou tão acostumado da cidade, é repugnante. Meus dedos martelam sobre o teclado de meu notebook enquanto meu cérebro faz esforço para se manter vivo. Tudo parece irreal. Minha cabeça dói. Recordo-me de ter tomado dois benzodiazepínicos para esquecer as coisas ruins, mas sem êxito, continuo me sentindo triste… Não, não é tristeza, quem dera fosse. Tristezas são momentâneas e — normalmente — possuem um motivo claro. Esta noite sufocante tira-me dos eixos. É como a sensação de um dia perdido, um dia inútil e sem fundamento. E continuo a respirar e pensar como se a qualquer momento Um anjo fosse me perdoar pelos meus desleixos. Sinto-me incapaz, imprestável. Não sei de onde surgem tais pensamentos, não sei se são de fato parte de mim. Desejo ser melhor do que sou, e desejo que eu seja ainda melhor do que serei no futuro; Uma pessoa gentil, calma e feliz. É, de fato, tudo que desejo: Ter paz.
Não pode ser tristeza.
Talvez seja só besteira, quem sabe?
Uma fenda que em meu coração se abre
E de lá, emergem minhas incertezas.
Busco, perante toda essa agonia, um cado de bobice. É necessário ser um tolo e não se levar tão a sério se quer se tornar uma pessoa melhor. Nós não somos os detentores da verdade e muito menos pessoas cem por cento responsáveis e sérias. Nós todos temos uma criança interior que almeja se divertir. Temos essa concepção de que havemos de ser, de alguma forma, perfeitos. É tolice — não de uma forma positiva — pensar que um dia poderíamos sequer chegar perto dessa concepção de perfeito.
Nós somos seres humanos, temos necessidades instintivas de humanos. Nós precisamos de diversão, precisamos de afeto, precisamos de carinho e precisamos de amigos. Hai de entender que não podes andar sozinho por uma floresta desconhecida, tu irás, certamente, se machucar. Nós deveríamos poder contar uns com os outros.
E nessa tolice de confiar, eu vejo que eu não estou errado. Por mais que me magoe, me machuque e me rasgue o peito, sei que é necessário confiar nos outros, não importa o quanto eu ache tal pessoa imprudente. Desperta-me um sentimento gratificante de saber que doei de mim para, quiçá, fazer uma pessoa feliz.
Nessa confusão, entendo que…
Não, não entendo nada.
Percebo que sofro, e sofro por sofrer
Sofro por razão alguma, como…
Como se esse sofrimento fosse meu.
Mas o que sou eu?
Sinto que devo partir daqui, é como se todos indivíduos que conheço conseguissem uma passagem de avião e dissessem “Au revoir, mon cher.” e me deixam para trás. Me deixam aqui, sofrendo e mofando num local onde tenho apenas a mim mesmo. Mas essa passagem não parece ser tão fácil de se “conquistar”. Essa passagem sequer existe para mim.
Em um dia, tudo acaba
Quando tudo acabar, o que restará?
Tudo não pode simplesmente desaparecer, pode?
Por que então continuar?
Continuar, ser resiliente, são coisas que nós, seres humanos, temos como característica. Mesmo quando tudo parece ter acabado, encontramos um novo significado e conseguimos nos mover, mover em frente e marchar diretamente a um abismo, um penhasco sem fim.
Eu queria ser como uma nuvem, com sua majestosidade e poder. Flutuando pelos céus e descendo à terra quando necessário. Com sua chuva, lavando tudo que é de ruim e trazendo para si, porém, não guarda esse tumor maligno, apenas o ressignifica, o limpa e continua a chover.
Minha vida não é difícil, quero dizer, não é como se eu lutasse avidamente para sobreviver, mas não é fácil. Queria me tornar um conceito abstrato que pode ser utilizado como uma analogia à paz, esperança. Queria me tornar uma palavra doce ao ser pronunciada, como “fleur”, “perhaps”, “sensível”. Queria me sintetizar em “Coalisgenescente”.
— Corvo